domingo, 26 de outubro de 2008

Discussões

Considero improdutiva uma discussão na qual a minha opinião não sofra mudanças significativas.
A primeira coisa que se nota a respeito da produtividade das discussões é que quase sempre ela é parecida para as duas pessoas que estão discutindo. Isso é, são raros os casos em que apenas uma das pessoas tenha a sua opinião drasticamente modificada*.
Acredito que isso aconteça porque só se muda de opinião quando se entende de verdade a opinião de outro. Igualmente, só se muda a opinião de outro quando se entende por que ele acredita naquilo.
Nesse sentido, é interessante que se aprenda a tornar uma discussão proveitosa para você, mesmo que ela não seja proveitosa para o outro. Aqui, é importante que a distinção entre ganhar uma discussão e ter uma discussão produtiva fique bem clara. O importante não é convencer ou ser convencido com o outro. Tenho o exemplo das minhas conversas com um amigo sobre ciência e religião. Ambos permanecemos acreditando nas mesmas coisas que antes, mas pelo menos do meu lado, passei a ver muito melhor os limites da ciência e entender até certo ponto o valor da religião.
O problema é que raramente chegamos nisso. Muitas vezes me vejo perdendo tempo em discussões improdutivas para ambos. Como tentativa de melhorar isso, irei começar a adotar a estratégia de argumentar a favor da idéia da outra pessoa, esperando assim conseguir entender melhor como ela pode sustentar tal opinião. Confesso que inicialmente isso só possa ser possível quando a opinião da outra pessoa não for muito diferente da minha, mas com o tempo talvez seja possível agir dessa maneira mesmo quando as opiniões forem muito diferentes. Sugiro que você tenta fazer o mesmo.

*talvez isso só aconteça se o nível intelectual de ambos não seja muito diferente, no entanto tenho observado também o contrário. Tentarei expandir esse ponto em um próximo texto

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de fazer uma contribuição ao seu artigo, referindo-me a um possível motivo da raridade das dicussões significativas; trata-se na verdade do desenvolvimento de um parágrafo do texto. Creio ser importante levar em consideração o medo que temos de mudarmos nossas opiniões, o fato é facilmente verificado pela abundância das discussões em que se quer "vencer" e não "aprender" e ainda mais pela auto-análise dos sentimentos durante uma discussão. Percebemos posteriormente que não se trata propriamente de medo, como entendemos a palvara ao ser usada isoladamente. Temos menos "medo" ao discutir com amigos que com estranhos e menos ainda em debates em que não há qualquer platéia.
Uma importante medida para aumentar o número das discussões significativas seria então diferenciá-las das que ocorrem por motivos outros que perseguir algum conhecimento, visto que essas requerem disposições diferentes e poucas são as pessoas que parecem identificar quando se trata de uma e de outra.

Biúnil disse...

É, acho que concordo com isso aí, mas isso é bem triste e, voltando ao ponto do comentário do outro post, tem a ver com a concepção platonica de Verdade que as pessoas têm. Discutir nao tem nada a ver com mudar suas verdades ou suas opiniões, as pessoas nao deviam ter medo disso. Discutir é legal para construir (ou desconstruir, hehe) idéias! Como vai ser a relação dessas idéias com sua visão de mundo, isso é problema seu! e posterior à discussão.

Anônimo disse...

Não concordo de todo com o comentário acima acerca do propósito das discussões. Certamente que a noção de uma discussão como entretenimento necessita ser expressa e reconheço grande mérito do autor em fazê-lo.
Agora, essa descrição das discussões não me satisfaz. De fato observo que discussões tem sim o que ver com mudarmos nossas opiniões, e me parece que deve ser assim. Não afirmo que isso precise ocorrer em todas as discussões mas que há momentos em que discutimos com pretensões a conhecer, e não vejo nada de mal nisso, muito pelo contrário. Quando o fazemos é evidente que esperamos que as conclusões formadas sejam aplicadas, e é nesse sentido que temos medo de debater. Não queremos assumir um tal compromisso. Em relação a isso, diria que devido à natureza fluida dos acontecimentos sempre se pode esperar uma mudança de opinião posterior. No entanto, quem não encontra razão em proceder de uma certa maneira faria melhor em simplesmente dizer que assim procede apesar da discussão e não procurar defender a todo custo uma opinião que ela própria crê insustentável. De fato, uma das medidas para, reduzindo o receio de discutir, melhorar nossos hábitos discursivos seria tolerar esse tipo de resolução como algo necessário a nossas vidas, embora seja de certa forma lamentável de uma perspectiva ideal. A quem objetar que isso retira o valor transformador das discussões, obsevaria que ninguém em geral está muito satisfeito em agir contrariamente ao que pensa e isso é motivo suficiente para mudar-se de atitude. De fato nossas tentativas de constrição social são aqui prejudiciais, já que ao invés de promover compromissos com as crenças elas promovem sim o desconsiderar de nossas resoluções no cotidiano. Diante do conflito prático preferimos desacreditar nossas palavras. Sustento assim que um diálogo saudável é possível, porém atualmente dificultado por certas convenções e que deveríamos antes mudar nossas convenções que suprimir o diálogo ou sua importância prática.