Considero improdutiva uma discussão na qual a minha opinião não sofra mudanças significativas.
A primeira coisa que se nota a respeito da produtividade das discussões é que quase sempre ela é parecida para as duas pessoas que estão discutindo. Isso é, são raros os casos em que apenas uma das pessoas tenha a sua opinião drasticamente modificada*.
Acredito que isso aconteça porque só se muda de opinião quando se entende de verdade a opinião de outro. Igualmente, só se muda a opinião de outro quando se entende por que ele acredita naquilo.
Nesse sentido, é interessante que se aprenda a tornar uma discussão proveitosa para você, mesmo que ela não seja proveitosa para o outro. Aqui, é importante que a distinção entre ganhar uma discussão e ter uma discussão produtiva fique bem clara. O importante não é convencer ou ser convencido com o outro. Tenho o exemplo das minhas conversas com um amigo sobre ciência e religião. Ambos permanecemos acreditando nas mesmas coisas que antes, mas pelo menos do meu lado, passei a ver muito melhor os limites da ciência e entender até certo ponto o valor da religião.
O problema é que raramente chegamos nisso. Muitas vezes me vejo perdendo tempo em discussões improdutivas para ambos. Como tentativa de melhorar isso, irei começar a adotar a estratégia de argumentar a favor da idéia da outra pessoa, esperando assim conseguir entender melhor como ela pode sustentar tal opinião. Confesso que inicialmente isso só possa ser possível quando a opinião da outra pessoa não for muito diferente da minha, mas com o tempo talvez seja possível agir dessa maneira mesmo quando as opiniões forem muito diferentes. Sugiro que você tenta fazer o mesmo.
*talvez isso só aconteça se o nível intelectual de ambos não seja muito diferente, no entanto tenho observado também o contrário. Tentarei expandir esse ponto em um próximo texto
domingo, 26 de outubro de 2008
Desejos de segunda ordem
É muito comum confundirmos desejos de primeira ordem (i.e. eu quero) com os de segunda (i.e. eu queria querer). O filósofo Daniel Dennett sugere que a maioria das pessoas que diz que acredita em Deus (1ª ordem) não acredita de verdade, apenas acredita em acreditar (2ª ordem)*. Na nossa vide, de fato, confundimos aquilo que queríamos que fosse verdade com aquilo que realmente é verdade (talvez um desejo de ordem 0?). A melhor forma que encontrei para conseguirmos nos afastar ao máximo disso é usando evidências concretas (e.g. teste duplo cego), como faz a ciência.
No entanto, vale lembrar que mesmo a ciência ainda está longe de ser baseada apenas em fatos e não em desejos, algo que muitas vezes recebe menos atenção do que deveria.
*i.e. quer acreditar e por isso pensa que acredita, sem que na realidade o faça
No entanto, vale lembrar que mesmo a ciência ainda está longe de ser baseada apenas em fatos e não em desejos, algo que muitas vezes recebe menos atenção do que deveria.
*i.e. quer acreditar e por isso pensa que acredita, sem que na realidade o faça
Assinar:
Postagens (Atom)